Quando o cineasta Camilo Tavares decidiu contar detalhes do Golpe de 1964 em um documentário, a ideia era falar sobre a trajetória de seu pai, o jornalista Flávio Tavares. Militante da esquerda à época, foi um dos presos políticos trocados no sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Mas Camilo mudou o caminho depois de ter acesso a telegramas confidenciais do departamento de estado dos Estados Unidos.
Da relação, “O Dia que Durou 21 Anos” passou a se guiar a partir de outro tema: a participação de instituições americanas como a CIA e a Casa Branca no golpe que desencadeou as mais de duas décadas de ditadura militar brasileira. Nesta terça (20/9), o filme é tema de discussão no projeto Encontro com Cineastas, feito pela Revista de Cinema em parceria com a Spcine. O debate acontece no Circuito Spcine Meninos, às 19h30, com a presença do diretor.
Para Tavares, o mérito do filme gira em torno da pesquisa e dos documentos oficiais aos quais teve acesso por meio do FOIA (Freedom of Information Act), a lei de livre acesso à imprensa dos EUA. A regulamentação permite que documentos ‘top secret’ da Casa Branca e dos Joint Chiefs of Staff dos EUA, que corresponde às forças armadas brasileiras, sejam ‘desclassificados’ após 20, 30 ou 40 anos, dependendo do grau de confidencialidade. “Imagina se aqui, no Brasil, as conversas dos presidentes fossem gravadas e, depois de alguns anos, abertas para consulta pública. Ainda estamos muito atrasados neste direito fundamental”, aponta Tavares, contemporizando na sequência. “Mas o trabalho da Comissão da Verdade está ajudando em muito a revelar nossa história.”
A viagem atrás das informações passou por Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Washington e Nova York. O ponto alto da investigação foi encontrar áudios do presidente John Kennedy, que, segundo Tavares, comprovam que ele não era um líder democrata, como muitos brasileiros e americanos acreditavam. “[Os áudios] evidenciam sua determinação em derrubar o presidente João Goulart em abril de 1962, ou seja, dois anos antes do golpe ser consumado”, conta.
Para Camilo, o documentário é uma homenagem à democracia. “É uma profunda reflexão sobre como os EUA distorcem o sentido de palavras de grande significado como democracia e liberdade com interesses puramente comerciais”.
Mas a viagem pela história da política brasileira não deve terminar por aqui. O cineasta está em fase de captação de recursos para “O Dia que Durou 21 Anos – 2”. A trama promete trazer mais novidades, além de material inédito e confidencial, sobre o período após o AI-5 e a conexão política entre os presidentes Emílio Garrastazu Médici e Richard Nixon.
Sessão debate do filme “O Dia que Durou 21 Anos” com o diretor Camilo Tavares
Quando? 20/9, às 19h30
Onde? Circuito Spcine Meninos (Rua Barbinos, 111, São João Climaco)
Quanto? Entrada Gratuita