Em 30 de março nascia o Circuito Spcine, a maior rede de salas públicas de cinema do Brasil e uma das mais importantes da América Latina. De lá para cá, três meses se passaram, e os números que giram em torno do projeto não param de crescer.
Até a última contagem, 58,9 mil pessoas assistiram às mais de mil sessões realizadas desde o lançamento do projeto. Atualmente, a rede é composta por 16 salas de cinema – 15 delas em Centros Educacionais Unificados (CEUs) e uma no centro cultural Olido. Em um ano o Circuito projeta alcançar 960 mil pessoas.
A programação está variada e vem dando espaço para blockbusters e obras autorais. Até a última semana, 38 filmes ganharam as telas do complexo, indo da animação internacional “Angry Birds – O Filme” ao terror musical paulista “Sinfonia da Necrópole”. Do total, 16 estrangeiros e 22 nacionais. O equilíbrio da origem das produções garante um market share de 57,9% para a produção brasileira. A média dos cinemas do País é de 12,4%.
O Circuito também aproximou o público exibindo diversos títulos de festivais como É Tudo Verdade, Entretodos e Ecofalante, antes restritos ao centro expandido de São Paulo e agora presentes em outras regiões da cidade.
Até 21 de julho serão inauguradas mais duas salas no Centro Cultural São Paulo: Circuito Spcine Lima Barreto e Circuito Spcine Paulo Emílio. A rede completa, com 20 salas de cinema, ainda inclui a Biblioteca Roberto Santos e o Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes.
A criação do projeto surgiu de um quadro de exclusão socioeconômica, tendo a distância e o preço do ingresso como fatores mais relevantes. No Circuito, o público tem o cinema perto de casa e de graça – ou a preços populares. Nos centros culturais, o bilhete custa até R$ 8. “A ideia é que a experiência de ir ao cinema, de ter uma programação de qualidade, seja acessível a todas as pessoas, independente de onde elas moram ou da sua renda”, afirma Alfredo Manevy, diretor-presidente da Spcine, em vídeo produzido pela empresa e disponível em sua página no Facebook.
Para Dimas Reis, coordenador da Casa de Cultura Brasilândia, a ação é como um ponto de acupuntura, no qual há uma possibilidade de irradiação cultural. “As pessoas começam a usufruir aquilo, no começo é estranho, é duvidoso. Mas com o tempo, aquilo vai se estabelecendo como um espaço de cultura, onde também é possível produzir, exibir”, completa.
A gestora do CEU Paz, Anatalia Pena, acredita que o Circuito pode se tornar uma alternativa de atividade cultural para a comunidade do bairro Jardim Paraná, onde o centro educacional está instalado. “Ele é de uma importância ímpar, porque nessa região não há nenhum espaço de lazer. Não temos praças e ruas largas onde as crianças possam jogar futebol”, complementa.
Pesquisas como a da empresa J.Leiva também serviram de estímulo. De acordo com um estudo de 2014, 10% da população paulistana nunca foi ao cinema, nem uma vez sequer. Considerando a renda, o percentual sobe para 30% nas classes D e E. “Um dos grandes desafios a ser encarado pelas políticas públicas para as cidades brasileiras de hoje é a redução das desigualdades entre centros e periferias. A disponibilização de salas de cinema populares nessas regiões representa a inclusão de parte da população paulistana no circuito cultural da cidade”, completa Ana Louback, gestora do projeto.
A iniciativa se soma a outras ações, como o Circuito Municipal de Cultura, que tem 3 mil atividades gratuitas previstas para 130 espaços diferentes de São Paulo. “A proposta da Prefeitura é descentralizar a programação cultural da cidade e garantir o direito dos que vivem mais distantes de também fazer algo em sua localidade”, disse a secretária municipal de Cultura, Maria do Rosário Ramalho, na cerimônia de inauguração do Circuito Spcine Aricanduva.