Um criador que concebe o roteiro de uma série e administra todas as suas etapas de produção. O papel do showrunner foi um dos assuntos recorrentes no debate sobre desenvolvimento de conteúdos seriados no Encontro Spcine. O evento, realizado entre 16 e 18 de novembro pela empresa paulista, reuniu agentes do mercado para uma série de discussões sobre o setor.
Para David França Mendes, roteirista-chefe da Mixer, o profissional do texto tem que ter noção do impacto da sua narrativa no set de filmagem. “No caso do Brasil, o roteirista precisa entender a relação do que ele escreve e do que se produz”. Mendes coordenou a sala de roteiros da série “A Garota da Moto”, exibida no SBT, e não hesitou em compartilhar suas sugestões com o publicitário João Daniel Tikhomiroff, responsável pela supervisão dos diretores. “É preciso que exista uma carreira que leve o roteirista até uma formação mais complexa”, completa.
“A vantagem do showrunner é que pela primeira vez a criação está no poder. A partir dos anos 1990, os criativos passaram a brigar mais pelos seus conteúdos”, afirma José Alvarenga Jr, diretor artístico da TV Globo. Para ele, o desafio mesmo é conquistar o espectador. “A guerra ficou muito grande para você capturar a atenção do público. Por isso é importante criar produtos novos”. O profissional é um dos criadores da série “Supermax”, cujo formato foi vendido para países como Espanha, Argentina e Colômbia.
Já Mauricio Mota, presidente da Wise Entertainment e criador da produção 100% latina “East Los High”, admite ter uma relação de amor e ódio com o termo showrunner. “Ele foi criado muito no contexto de poder. Na ideia de criar uma função que dá poder a alguém. Há uma tendência em endeusar certas pessoas na indústria criativa. Se a gente focar em rótulos pode atrapalhar o processo. Precisamos criar nossos próprios termos e processos no Brasil e formar repertório antes”, pondera, frisando que, nos EUA, há nove funções para chegar até o cargo de showrunner. “O Vince Gilligan escreveu os piores scripts da série Arquivo X para, um dia, fazer Breaking Bad”.
Outro assunto que veio à tona durante o debate foi a falta de olhar estratégico da produção nacional. “Muitas vezes chegamos a uma reunião, e eu não escuto as pessoas falarem sobre a relevância da história ou a montagem de um plano de negócio. Aqui [no Brasil] não costumo ouvir quem é o criador, ao contrário do que acontece em outros países”, diz Carina Schulze, sócia-fundadora da Chatrone, produtora da série “Gaby Estrella”.
“É necessário ter uma visão artística do projeto, mas não é isso que garante seu sucesso. No Brasil, temos a tendência de dar importância a coisas pequenas. Não adianta aparecer novidades, contratar consultores de roteiro, se a equipe, por exemplo, não escreve bem”, corrobora França Mendes.
“É importante que o produtor olhe para a TV aberta, TV fechada, e veja se a obra é adequada àqueles espaços. Sempre que fazemos um pitching, não analisamos se a ideia é criativa, incrível, mas sim se o produto vende e se tem potencial para viajar para fora do Brasil”, sublinha Denise Assumpção, executiva da NBC Universal. Mesmo assim, Mota defende o equilíbrio. “Muitas vezes o que o mercado quer, o público não quer. É a rua que vai dizer o que quer assistir”.