Já faz mais de três anos que Uma História de Amor e Fúria chegou aos cinemas. A animação, que reconta períodos importantes da história brasileira a partir de um caso de amor que atravessa os séculos, arrancou críticas elogiosas no Brasil e no exterior. O filme garantiu mais de cinco prêmios internacionais, incluindo o cobiçado troféu do Festival de Annecy, a principal premiação da animação mundial, conquistado em 2013.
Agora, a produção passa por uma nova guinada. Nesta semana, o longa-metragem fez sua estreia em 18 salas de cinema na França. Ainda este mês, chega a Coréia do Sul e a redes de TV na Turquia e na China. “O filme parece mais vivo do que nunca. O tempo passa e ele continua sendo exibido”, comemora Luiz Bolognesi, a mente criativa por trás dos roteiros de grande sucesso como Chega de Saudade e Bicho de Sete Cabeças — ambos dirigidos pela cineasta Laís Bodanzky.
Na próxima segunda (8/8), ele apresenta Uma História de Amor e Fúria dentro da programação do Encontro com Cineastas, parceria entre a Spcine e a Revista de Cinema. Diversos motivos fazem com que o filme mantenha sua relevância, segundo Bolognesi. Uma realidade próxima da distopia desenhada no filme, com a ascensão do fundamentalismo religioso e de sistemas políticos de controle, é o que estamos presenciando na opinião dele. “Mas, sobretudo, há uma vontade das pessoas conhecerem mais sobre a história do Brasil. O filme oferece um pouco esse olhar, e isso é muito raro no cinema brasileiro. A gente tem poucos filmes históricos. Essa conjunção é que tem mantido o filme em cartaz e com muita força”, acredita.
No enredo, um herói imortal reencontra sua amada em diversos momentos históricos do país. O período de colonização, a escravidão, o Regime Militar e um futuro distópico, em 2096, são retratados. Em todos eles, o casal de protagonistas dublados por Selton Mello e Camila Pitanga, lutam contra a opressão. O longa já foi exibido em mais de 60 países, incluindo lançamentos em circuitos comerciais, salas de arte e festivais.
“Foi uma surpresa pra nós. Fizemos um filme pensando em Brasil, não imaginava que ele teria uma vida internacional. Junto com ‘Terra Vermelha’ foi o meu filme que mais viajou. E é curioso. Na verdade, isso lembra um pouco aquela frase ‘se você quer ser universal, fale da sua aldeia’. Foi o que fizemos, falamos muito da nossa história sem se preocupar em fazer um filme global e ele acabou despertando grande interesse de audiências do mundo todo”, relata.
Da concepção ao lançamento, foram seis anos para realizar a animação com estética de história em quadrinhos. O prêmio no Festival de Annecy coroou o trabalho e despertou o interesse internacional sobre a animação feita por aqui.
No ano seguinte, O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, conquistaria o “bicampeonato” para o Brasil em Annecy e, em 2015, o curta-metragem “Guida”, de Rosana Urbes, também seria laureado pelo festival. “No ambiente de animação mundial, o Brasil é um player visto não como um território que presta serviço, mas de cinema autoral, com linguagem própria. A melhor maneira de entrar no mercado é com branding, com marca. E o Brasil entrou no cenário mundial com selo de qualidade”, defende.
Para ele, a exposição internacional estimula outros formatos como as séries de TV em animação, hoje grandes hits nos canais por assinatura e aponta para um cenário econômico mais focado em economia criativa. “Os filósofos e economistas do mundo todo dizem que é a economia do futuro não é a de vender matéria prima, mas a que agrega valor. E o principal valor é o conhecimento, a expertise, a criatividade. É isso que a animação brasileira vem produzindo. Uma perspectiva muito boa que a gente espera que não seja interrompida”, conclui Bolognesi.
SERVIÇO
Encontro com Cineastas
Sessão debate do filme “Uma História de Amor e Fúria” com o diretor Luiz Bolognesi
Quando? 8 de agosto, às 19h30.
Onde? Circuito Spcine Butantã (Rua Engenheiro Heitor Antônio Garcia, 1700/1870, Jardim Esmeralda).
Quanto? Entrada Gratuita (ingressos distribuídos com 1 hora de antecedência).