Levantamento inédito foi apresentado em 25 de junho durante a programação do 4º Fórum Spcine
A Spcine apresentou um estudo inédito sobre a cadeia do cinema indígena no estado de São Paulo, revelando as potencialidades, desafios e trajetórias dos realizadores indígenas na capital e em diferentes regiões do estado. O lançamento do estudo aconteceu no dia 25 de junho, como parte da programação do 4º Fórum Spcine. A pesquisa identificou 42 pessoas indígenas envolvidas com produção audiovisual no estado, atuando em aldeias, contextos urbanos e universidades.
O Mapeamento do Cinema Indígena no Estado de São Paulo foi encomendado pelo Observatório Spcine e conduzido pelo Instituto Catitu, tendo como objetivo subsidiar políticas públicas mais inclusivas, capazes de ampliar o acesso e a participação indígena nos editais e circuitos de fomento ao audiovisual.
Segundo o Censo 2022, São Paulo reúne cerca de 55 mil indígenas, sendo 92% em áreas urbanas e 8% em Terras Indígenas. A maioria dos realizadores mapeados pertence ao povo Guarani Mbyá, mas também há representantes dos povos Pankararu, Tupiniquim, Tukano, Baniwa, Aymara, entre outros. A produção identificada aborda temas como meio ambiente, identidade cultural, retomadas de território, igualdade de gênero e resistência política.
As iniciativas de formação e produção audiovisual indígena no estado começaram no início dos anos 2000, com projetos em aldeias Guarani Mbyá no litoral e ações do Comitê Interaldeias e do Instituto Catitu, voltadas à capacitação de comunicadores e ao fortalecimento do audiovisual como ferramenta de expressão e articulação política. O mapeamento destaca experiências recentes como a formação de mulheres cineastas em Tenondé Porã, projetos em parceria com a Spcine, expansão de coletivos na Aldeia Multiétnica de Guarulhos e novas produções no Jaraguá, incluindo curtas premiados em festivais.
Entre os entrevistados estão jovens realizadores, mestres cineastas e estudantes universitários que desenvolvem seus projetos em diálogo com tradições e tecnologias. Essa diversidade mostra como o cinema indígena circula entre o registro de memórias e a experimentação artística, desenvolvendo uma linguagem própria e engajada. O relatório também aponta a necessidade de ampliar a circulação das obras, sua preservação e o acesso a políticas públicas voltadas ao fomento e à distribuição.
“O levantamento representa um passo importante na construção de um ecossistema audiovisual mais plural, reconhecendo o cinema indígena como parte do patrimônio cultural brasileiro e da economia criativa. A iniciativa reforça o compromisso com a ampliação de oportunidades e a redução das desigualdades, abrindo caminhos para que narrativas indígenas ocupem mais espaços e contribuam para o debate cultural”, afirma Lyara Oliveira, presidente da Spcine.
Além de mapear pessoas e coletivos atuantes, o estudo realizou 15 entrevistas aprofundadas, reunindo relatos sobre trajetórias, obstáculos e perspectivas de futuro.
O Mapeamento do Cinema Indígena no Estado de São Paulo confirma que, apesar das dificuldades históricas, o cinema indígena paulista se afirma como ferramenta de resistência, afirmação cultural e transformação social. A Spcine espera que o documento inspire políticas públicas em nível nacional e amplifique a presença das vozes indígenas no cenário audiovisual.
O estudo completo pode ser consultado na página: https://forumspcine.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Relatorio-mapeamento-SPCINE_POR_pag-simples_vF.pdf
DADOS EM DESTAQUE DO MAPEAMENTO
- População indígena no estado de SP:
- 55.295 indígenas (Censo 2022)
- 7,56% vivendo em Terras Indígenas
- 92,44% em contexto urbano ou rural fora de Terras Indígenas
- 55.295 indígenas (Censo 2022)
- Pessoas mapeadas:
- 42 pessoas indígenas atuantes no audiovisual
- 15 entrevistas aprofundadas (13 individuais, 1 dupla, 1 grupo)
- Idades dos entrevistados: 16 a 53 anos
- Presença crescente de mulheres, incluindo a Rede Katahirine
- 42 pessoas indígenas atuantes no audiovisual
- Formação educacional dos entrevistados:
- Ensino superior incompleto: 17%
- Ensino superior completo ou em curso: 31%
- Ensino médio completo: 30%
- Pós-graduação: 9%
- Ensino fundamental: 13%
- Localização no Estado de SP:
- Capital e região metropolitana: 48%
- Litoral Sul: 26%
- Interior do estado: 26%
- Capital e região metropolitana: 48%
- Formação e políticas de fomento:
- Mais de 20 anos de oficinas audiovisuais em aldeias
- Destaque para Instituto Catitu, Comitê Interaldeias, Comissão Guarani Yvyrupa, Guarani Lab
- Oficinas voltadas para mulheres indígenas desde 2022
- Mais de 20 anos de oficinas audiovisuais em aldeias
- Eventos e circulação:
- Presença em festivais como Mostra Ecofalante, É Tudo Verdade, Kinoforum, Bienal de SP, Pinacoteca, MASP
- Exibição online em plataformas como Spcine Play e Itaú Cultural Play
- Presença em festivais como Mostra Ecofalante, É Tudo Verdade, Kinoforum, Bienal de SP, Pinacoteca, MASP
- Propostas de políticas públicas:
- Ampliação de editais específicos
- Redução da burocracia nos processos de inscrição
- Estímulo à distribuição e preservação das obras
- Formação continuada
- Ampliação de editais específicos